TEMA: O FUTURO SE FAZ COM A CONSCIENTIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS
Com o tema “O Futuro se faz com a
conscientização das Diferenças”, a Federação Nacional das APAEs, em consonância
com suas unidades filiadas, organiza, mais uma vez, no sentido de promover
ampla discussão, no período de 21 a 28 de agosto de 2016, a Semana Nacional da
Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Nossa contribuição aos
desdobramentos da programação consiste nesta reflexão sobre o tema citado, para
o qual recorremos ao conceito de diferença, com base em pesquisas que o
fundamentam. Ao afirmarmos que ser diferente é uma questão de direitos humanos,
entendemos que se trata de valioso destaque na pauta dos eventos que discutirão
e debaterão a temática. Evidências apontam ocorrências na sociedade,
ameaçadoras da dignidade das pessoas, ao ponto de não serem aceitas por causa
da diferença que apresentam. Sobre o assunto, buscamos respostas para as
perguntas seguintes: Por que falar de diferença? Qual sua importância? O que é
diferença? O que tem a ver a diferença com a Semana da Pessoa com Deficiência? Uma
das respostas refere-se à intencionalidade e ao direcionamento do texto em destaque,
à diferença inerente à vida e à pessoa com deficiência. Pesquisadores, dentre
eles Carvalho (2012), podem ser consultados, para que o assunto seja
aprofundado. A autora discute a diferença no âmbito da experiência, da relação
social, da subjetividade e da identidade, ao mesmo tempo, faz referência à
pessoa com deficiência. Muito embora a diferença relacionada à existência
humana, ainda, equivocadamente, é interpretada como um problema social, e não
como um valor, sem nexo com o real significado que encerra, o que impacta
diretamente nas relações interpessoais e no respeito à dignidade e aos direitos
sociais. Os avanços ocorridos na sociedade ainda não foram suficientes para
romper com a problemática resultante do desconhecimento, o que torna relevante
e sugestiva a escolha da temática. Trata-se de uma provocação indutora à defesa
dos direitos de viver com dignidade em sociedade e que merece o protagonismo
das pessoas com deficiência na liderança das discussões em tais eventos, com a
presença da família, de profissionais e da sociedade.
Ao longo dos anos, evidenciam-se
caminhadas importantes na luta pela eliminação de barreiras ainda não
superadas. No cotidiano da sociedade, são revelados fatos que justificam a
inesgotável necessidade de serem acionadas medidas, em busca da aceitação, participação,
compreensão e do respeito. Sendo assim, torna-se preponderante a compreensão e
análise conceitual da diferença, a fim de evitar interpretações indevidas e que
a diferença seja confundida com desigualdade. Conforme Padilha (1999, p. 17),
[...] a diferença faz a cultura. A diferença faz a arte. A diferença faz a
democracia. Diferença é outra coisa, absolutamente diferente da desigualdade.
Não queremos desiguais, mas precisamos dos diferentes”.
A desigualdade fica evidenciada na
situação em que vivem as mulheres por questões de gênero, etnia, raça ou condição
social, quando se trata de acesso aos direitos fundamentais, em especial ao
trabalho e emprego. Em destaque, na forma desigual como são remuneradas em
relação aos homens, pelo que nos mostram as pesquisas veiculadas recentemente.
Da mesma forma, tais fatos podem ser analisados em relação às pessoas com
deficiência. Benevides (1998) nos mostra que a diferença não está na contramão
da igualdade, mas sim:
[...] a desigualdade, que é socialmente construída, sobretudo
numa sociedade tão marcada pela exploração classista. É preciso ter claro que
igualdade convive com diferenças – mas que não são reconhecidas como
desigualdades, isto é, não pode existir uma valoração de inferior/superior
nessa distinção. A diferença pode ser enriquecedora, mas a desigualdade pode
ser um crime. (BENEVIDES, 1998, p. 166).
Conforme Carvalho (2012, p. 14), “as
diferenças não podem continuar a ser vistas como meros desvios da norma ou como
simples resultados de comparações entre sujeitos”. Antes de tudo, trata-se de
um conceito de diferentes significados, a depender dos entre lugares por onde
transitam os diferentes sujeitos, destacando-se o aspecto cultural e os
contextos semióticos de onde emergem as enunciações constitutivas dos conceitos
e das formações, nos âmbitos cultural e social. A escola, a sala de aula, as
empresas, as reuniões de diversas naturezas, científicas, festivas, familiares,
etc. são consideradas como integrantes de tais contextos. A escola, lugar onde
as diferentes presenças se encontram, registra ocorrências que resultam na
influência direta e formadora de ideias e diferentes opiniões, incidindo nos aspectos
pessoais, profissionais e sociofamiliares. A diferença evidencia-se nas
práticas sociais e é marcada por questões de: gênero, classe social, geração,
raça, etnia, características físicas, mentais e culturais. A leitura nos proporciona
a oportunidade de refletir a diferença relacionada a quatro conceitos, e não simplesmente
analisada como um fato isolado. Pode ser analisada no âmbito das relações interpessoais,
sociais, no discurso compartilhado e nas identidades grupais, nas relações de reciprocidade
sujeito e mundo, enfim, nas interações.
A experimentação da diferença pelas
pessoas com deficiência adquire novos significados, quando os fatos emergem da
própria história de vida e experiências vividas por essas pessoas e são
testemunhados por elas. Tais como, a forma como ocorrem e as experiências nas
relações sociais, os impactos sofridos e as influências resultantes, de maneira
a garantir-lhes a qualidade que os sustente firmemente em seus valores,
potencialidades, direitos sociais e quais contribuições resultaram no
desenvolvimento da sua subjetividade e na garantia da identidade. Igualmente,
nos sentimentos das pessoas com deficiência, as marcas deixadas pelas diversas
situações vividas. Entender a diferença como uma expressão dos direitos humanos
ganha contornos expressivos nos dias atuais.
Lopes (2005, p. 189) ressalta que: [...]
a diferença entre pessoas, povos e nações é saudável e enriquecedora; que é preciso
valorizá-la para garantir a democracia que, entre outros, significa respeito
pelas pessoas e nações tais como são com suas características próprias e
individualizadoras; que buscar soluções e fazê-las vigorar é uma questão de
direitos humanos e cidadania. A luta pelo direito à diferença acompanha a
história da humanidade, e se faz presente nos movimentos que confrontam o poder
existente nas diversas instâncias sociais, cujos padrões estabelecidos em
termos de homem ideal, opções políticas, religiosas, de arte e cultura
desconsideram o direito de ser diferente como um direito humano, na tentativa
de estatuir o que é conveniente à hegemonia dominante. Dessa forma, destacar a
diferença como assunto temático da Semana da Pessoa com Deficiência é valorizar
a sua relação com a pessoa com deficiência, considerando que, como as pessoas
sem deficiência, têm o direito de serem diferentes. É, ao mesmo tempo, evitar,
dessa forma, que resulte em atitudes preconceituosas e excludentes. É, também, reconhecer
que as pessoas com deficiência são diferentes entre si, assim como todas as pessoas
sem deficiência o são. Diferente significa “que se distingue de outras coisas
ou pessoas; não é igual”. (AULETE, 2008, p. 356). A defesa e a ampliação dessas
ideias compõem os desafios que ficam para todos nós, no compromisso com a
implementação do tema proposto. “A diferença é condição de sobrevivência das
espécies...” (PADILHA, 1999, p. 14). Trata-se, então, de um assunto que não se
esgotará no evento em pauta.
FONTE: APAE BRASIL (clique neste link para acessar o arquivo na web).